UMA AVENTURA NO PULO DO LOBO
Nesta queda de água de cerca de 16 metros sobre o pego do Sável (o principal acidente geológico deste Grande Rio do Sul), sentem-se as forças telúricas que têm moldando o vale do rio ao longo de milhões de anos.
O Pulo do Lobo é um geossítio de relevância nacional, local considerado o “coração” do Parque Natural do Vale do Guadiana, quer pela sua imponência e beleza, quer pela biodiversidade que ali se encontra. As escarpas altas e rochosas que envolvem o local, são o refúgio perfeito para espécies como a cegonha-preta, o bufo-real, a águia-real entre outras aves rupícolas. No entorno, a vegetação é composta por várias espécies próprias dos habitats de matagais mediterrânicos. Murtas, zambujeiros, aroeiras, esteva, tojos, várias espécies aromáticas, alecrim, tomilhos e rosmaninhos e flores silvestres como os narcisos e algumas orquídeas. Por entre esta vegetação densa, vague uma fauna muito diversa, que por estes dias, tem no Lince-Ibérico o seu expoente máximo.
A garganta estreita da queda de água, de cerca 20 metros de altura, deu origem à lenda, segundo a qual um homem audaz ou uma fera acossada (como um lobo) poderiam transpor de um só salto este desnível.
Lá em baixo, depois da queda, as aguas caem num lago (chamado de Pego do Sável) e seguem para sul. Deste ponto é visivel que, a jusante da queda, o rio tem dois leitos: um mais largo e superior que deverá ter origem glaciar e, ao centro deste, como um traço mais fundo, o leito atual, rasgado pela erosão das águas. As águas seguem neste leito inferior, estreito e rochoso ao longo de cerca de 10km, num troço que se designa de “corredoura”.
Na zona do Pulo do Lobo o leito rochoso é formado por várias cavidades, que se designam de “marmitas de gigante” ou “marmitas turbilhonares”. Estas formações são depressões, mais ou menos arredondadas, com dimensões bastante variáveis, existentes no leito rochoso de alguns rios e no fundo das quais se encontram seixos e areias. A acumulação destes seixos associada ao movimento turbilhonar da água e, consequentemente, movimento circular das partículas, forma, devido ao atrito, estas depressões.
O Pulo do Lobo faz fronteira entre o concelho de Mértola e Serpa. O acesso pode ser feito, na margem direita a partir da aldeia da Corte Gafo de Cima, até à aldeia da Amendoeira da Serra seguindo depois por uma estrada estreita até aos portões da “Herdade do Pulo do Lobo”. Passando esse portão segue por uma estrada de terra batida. Aconselhamos que avance um pouco de carro, e que faça o resto do percurso a pé. A estrada tem muitos desníveis e o percurso a pé causa menos perturbação ao local. Pode também aceder ao Pulo do Lobo, pela margem esquerda, seguindo na estrada da Mina de S. Domingos para Serpa.
Ao visitar a zona aconselhamos muito cuidado, sobretudo se estiver acompanhado por crianças, pois o terreno apresenta acentuadas irregularidades. Por favor respeite as indicações de segurança e não se afaste do caminho ou aventure a andar sobre as rochas.
O Pulo do Lobo é um dos mais dramáticos trechos do Guadiana, o local onde o “rio ferve entre paredes duríssimas, rugem as águas, espadanam, batem, refluem e vão roendo, um milímetro por século, por milénio, um nada na eternidade“, como escreveu José Saramago.
O Pulo do Lobo é geologia, é paisagem, é biodiversidade e é também o testemunho do inconformismo e bravura de um rio milenar no seu incessante caminho para o mar.
LOCALIZAÇÃO
Pulo do Lobo
A LENDA
O encantamento em torno deste lugar é incomparável.
Reza a lenda que “em tempos passados, vivia na aldeia da Corte Gafo uma princesa de beleza deslumbrante. No outro lado do rio, vivia um pobre camponês, moço destemido, que saltava sobre o abismo para poder encontrar-se com a sua amada.
Um dia, o pobre moço foi apanhado pelo pai da princesa, que o ameaçou com severo castigo se ele ousasse novamente aquele atrevimento. As ameaças não assustaram o rapaz que, enleado em grande paixão, continuou com os seus destemidos saltos, visitando às escondidas a sua bela princesa. Quando o surpreendeu de novo, o rei pôs em prática a sua ameaça. Chamou uma bruxa que lhe lançou o seguinte feitiço:
– Se saltares novamente o rio, transformar-te-ás em lobo.
Mas isto não impediu que o rapaz continuasse a saltar para se encontrar com a sua amada, sob a forma de lobo.
Quando o pai da princesa descobriu que os encontros se mantinham, reuniu os seus homens e os seus cães e lá partiram todos em perseguição do desafortunado rapaz, que a princesa não quis abandonar. Fugiram os dois na direção do rio, e, quando lá chegaram, tentaram saltar para a outra margem, mas a princesa não alcançou o outro lado, caindo no desfiladeiro e desaparecendo na água revolta.
O rapaz não suportou a dor de perder o seu grande amor e lançou-se também no abismo, onde morreu, meio homem, meio lobo.”
O Pulo do Lobo é o local mais dramático de todo o trecho do Guadiana, o local onde, segundo José Saramago, “o rio ferve entre paredes duríssimas, rugem as águas, espadanam, batem, refluem e vão roendo, um milímetro por século, por milénio, um nada na eternidade“.
Visite o Pulo do Lobo e venha encantar-se com esta maravilha da natureza no seu estado mais puro!
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